
Apesar de não ser considerada uma expressão popular, um ditado ou um adágio, esta expressão (e similares com mesmo significado), são bastante utilizadas por nós brasileiros e até em outras línguas. Perguntei a minha mãe se ela sabia o que esta expressão queria dizer e ela me respondeu: "- É uma força de expressão!" E eu completaria...e uma expressão que tem sua força. Mas o dicionário Collins English Dictionary traz a seguinte definição:
"Definition of 'on your mind'
If something is on your mind, you are worried or concerned about it and think about it a lot.
"On your mind" in a phrase:
This game has been on my mind all week.
I just forgot. I've had a lot on my mind.
Em sua tradução:
"Definição de 'em sua mente'
Se algo está em sua mente, você está preocupado ou preocupado com isso e pensa muito nisso.
"Na sua mente" em uma frase:
Eu apenas esqueci. Eu tive muito em minha mente.
Este jogo esteve em minha mente durante toda a semana.
"Não me sai da cabeça" seria ainda uma figura de linguagem? Uma figura do pensamento? Qual delas? Só uma professora de Português, ou aquele bom aluno do ensino fundamental 2, poderiam ao certo responder com maestria tal classificação:


São vistas em letras de músicas:
Segue um pequeno trecho:
" (...) Você não me sai da cabeça
Você não me sai da cabeça
Você não me sai da cabeça não
Não sai nem quando entro em coma
Por ficar tanto tempo acordado
Ainda mais se desabo na lona
Esperando dormir do seu lado."
A questão vista pelo viés da Psicologia, é foca no estudo do que chamamos de Pensamento Ruminativo. Segundo Zanon, Borsa, Bandeira e Hutz (2012):
"A ruminação, ou pensamento ruminativo, tem sido caracterizada como
uma cadeia de pensamentos repetitivos, de caráter negativo, que se
perpetua por longo tempo (Nolen-Hoeksema, 1991; 2004). Apesar da
ruminação estar presente em todas as pessoas em algum grau, nem toda
ruminação é igualmente disfuncional.
A literatura aponta evidências de que a ruminação é prejudicial
quando associada a tendências disfóricas (mau-humor, tristeza e
desmotivação) e/ou associada a traços de personalidade presentes no
fator Neuroticismo (Lyubomirsky & Tkach, 2004). O neuroticismo
caracteriza o nível de desajustamento emocional e a vulnerabilidade para
desenvolver stress e ansiedade, depressão, sentimentos de culpa,
baixa autoestima, tensão, irracionalidade, timidez, tristeza e
emotividade (Costa & McCrae, 2007; Hutz & Nunes, 2001; McCrae
& John, 1992).
No presente artigo, será discutido o conceito de ruminação ou
pensamento ruminativo enquanto comportamento disfórico. Do mesmo modo
será discutida a associação entre ruminação com as facetas do fator
Neuroticismo (vulnerabilidade, desajustamento psicossocial, ansiedade e
depressão) e como se dá os padrões dessa associação entre homens e
mulheres.
Segundo Nolen-Hoeksema, Parker e Larson (1994), a ruminação é uma
forma desadaptada e mal-sucedida de pensar sobre si mesmo. Um aspecto
fundamental da ruminação é o direcionamento da atenção sobre as causas e
consequências dos sintomas depressivos, conforme percebidos pelo
próprio indivíduo. Duas diferentes teorias, que têm por objetivo
explicar o fenômeno da ruminação, embasam os estudos sobre o tema. A
primeira é a Teoria do Estilo de Resposta (TER) (Nolen-Hoeksema, 1991;
2004) e a segunda é o Modelo do Funcionamento Executivo Auto-Regulatório
(MFEAR) (Wells & Mathews, 1996; Matthews & Wells, 2004).
A TER compreende a ruminação como uma das diversas formas de reagir a
eventos estressores. Enquanto alguns evitam pensar no assunto, buscam
distrações em outras atividades ou agem efetivamente para resolver seus
problemas, outros direcionam sua atenção de forma passiva sobre seu
estado de humor negativo, ou seja, ruminam. De acordo com a TER, pessoas
que ruminam muito (indivíduos ruminadores) prolongam seus episódios
depressivos (Nolen-Hoeksema, 1991, 2004; Nolen-Hoeksema, Morrow &
Fredrickson, 1993) e apresentam baixa capacidade para resolver problemas
(Donaldson & Lam, 2004; Lyubomirsky, Karsi & Zhem, 2003).
Segundo o MFEAR, por sua vez, a ruminação consiste de pensamentos
repetitivos que visam amenizar autodiscrepâncias percebidas em diversos
contextos (Matthews & Wells, 2004). Diante de episódios em que a
condição almejada afasta-se significativamente da condição vivida,
sujeitos não ruminativos, ainda que reclamem e se lamuriem sobre a
situação, buscam a redução da discrepância através de comportamentos
efetivos. De outro lado, indivíduos ruminadores tendem a focar a atenção
em estratégias que não estão diretamente ligadas à diminuição das
discrepâncias. Um exemplo disso é relembrar e remontar continuamente os
eventos ansiogênicos relacionados à percepção da discrepância. Ou seja,
os ruminadores parecem utilizar estratégias ineficazes para reduzir suas
discrepâncias, ao invés de tentar eliminá-las através de ações efetivas
e planejadas (Matthews & Wells, 2004).
Roberts, Gilboa e Gotlib (1998) propuseram que a ruminação é uma
manifestação cognitiva do traço de personalidade neuroticismo. De acordo
com os autores, sujeitos com altos escores de neuroticismo tendem a
focar sua atenção sobre sentimentos e experiências que intensificam a
vivência de episódios de disforia (tristeza, desesperança e
inferioridade). Evidências da associação entre ruminação e o fator
neuroticismo também são referidas por outros trabalhos importantes da
literatura internacional (Roberts et al., 1998; Teasdale & Green,
2004; Trapnell & Campbell, 1999). Além disso, no estudo realizado
por Zanon e Teixeira (2006), com uma amostra brasileira, tais achados
também foram encontrados.
Neste contexto, a ruminação pode ser pensada como um tipo de
pensamento estável ao longo da vida, assim como os traços de
personalidade. Estes, por sua vez, podem ser entendidos como um conjunto
de padrões de dimensões afetivas, cognitivas e comportamentais (Silva,
Schlottfeldt, Rozenberg, Santos & Lelé, 2007).
As teorias fatoriais de personalidade são amplamente citadas na
literatura e referem-se ao conjunto de características básicas da
personalidade, considerando—se suas principais propriedades e as
relações entre elas (Pervin & John, 2004). Das teorias fatoriais
mais conhecidas, está o Big Five ou Modelo dos Cinco Grandes
Fatores (CGF), versão moderna da teoria do traço e que representa um
avanço conceitual e empírico no campo da personalidade, descrevendo
cinco dimensões humanas básicas de forma consistente e replicável (Hutz,
Silveira, Serra, Anton & Wieczorek, 1998).
O Big Five propõe que a personalidade é constituída por
estruturas unitárias naturais denominadas traços, agrupadas em cinco
grandes dimensões ou fatores: extroversão, neuroticismo, abertura,
realização e socialização. Tais fatores foram descobertos a partir da
análise de descritores da personalidade, encontrados na linguagem
natural. Partiu-se da hipótese léxica de que as características mais
importantes dos indivíduos são nomeadas como termos únicos e específicos
em algumas ou em todas as línguas do mundo (Costa & McCrae, 2007;
Hutz et al., 1998).
O fator neuroticismo também é conhecido como desajustamento
emocional, fator N ou simplesmente 'N'. Esse fator corresponde a um
conjunto de características individuais que predispõem os indivíduos a
vivenciar de forma mais intensa os sentimentos de aflição, angústia,
sofrimento, inadaptação, depressão, ansiedade, baixa tolerância à
frustração, impulsividade, autocrítica e outros (Costa & McCrae,
2007; DeNeve & Cooper, 1998; Hutz & Nunes, 2001; McCrae &
John, 1992; Trapnell & Campbell, 1999; Watson & Hubbard, 1996).
Indivíduos com altos escores no fator N geralmente são ansiosos e
apresentam mudanças frequentes de humor. Ademais, tendem a sofrer de
transtornos psicossomáticos e apresentam reações muito intensas frente
aos estímulos. Ao contrário, sujeitos com baixos escores neste fator
tendem a responder a estímulos emocionais de maneira controlada,
retornando rapidamente a seu estado normal após uma elevação emocional
(Hutz & Nunes, 2001; McCrae & John, 1992; Silva et al., 2007).
O fator N, avaliado pela Escala Fatorial de Neuroticismo (EFN) (Hutz
& Nunes, 2001), é subdividido em quatro facetas - subcategorias que
melhor representam sua amplitude e seu alcance explicativo. A primeira
faceta chama-se vulnerabilidade e é caracterizada por traços como
insegurança, baixa autoestima, dificuldade em tomar decisões e medo de
abandono. A segunda faceta é conhecida como desajustamento psicossocial e
representa traços que envolvem comportamentos sexuais de risco, consumo
exagerado de álcool, necessidade recorrente em chamar atenção.
Ansiedade é a terceira faceta e é composta por traços como
irritabilidade, transtornos de sono, comportamento impulsivo, sintomas
de pânico e alterações de humor. Por fim, depressão é a quarta faceta e
caracteriza-se por traços de humor deprimido, ideação suicida,
sentimentos de desesperança, entre outros (Hutz & Nunes, 2001).
O fator neuroticismo tende a apresentar-se de diferentes formas em
homens e mulheres. Segundo o estudo realizado por Nunes (2000),
observaram-se diferenças significativas entre homens e mulheres,
sobretudo no que diz respeito às facetas ansiedade e desajustamento
psicossocial. Indivíduos do sexo masculino apresentaram maior índice de
desajuste psicossocial enquanto as mulheres apresentaram maior índice de
ansiedade. Esses achados foram parcialmente corroborados por outros
estudos recentes (Serafini, 2008; Trentini et al., 2009).
Estudos apontam, também, que mulheres tendem a apresentar maior
incidência de neuroticismo, enquanto fator geral, quando comparadas aos
homens (Costa & McCrae, 1992, 2007; Ebert, Loosen & Nurcombe,
2002; Hutz & Nunes, 2001). Em uma análise teórica realizada por
Oliveira (2002), constatou-se que os estudos que investigam o fator
neuroticismo e sua relação com o sexo apontam as mulheres como aquelas
que possuem maior tendência a expressarem traços que caracterizam o
fator N. Tal informação é amplamente defendida pela literatura
especializada, a qual indica, ainda, que as diferenças são
significativas e recorrentes em diferentes culturas (Ebert et al., 2002;
Hutz & Nunes, 2001). Contudo, alguns estudos brasileiros apontam
dados contraditórios aos da literatura majoritária sobre o tema (Hutz
& Nunes, 2001; Serafini, 2008).
Conforme a pesquisa realizada por Serafini (2008), os jovens do sexo
masculino apresentaram médias mais altas nos fatores desajustamento
psicossocial e depressão. No estudo de validade da EFN (Hutz &
Nunes, 2001), os homens apresentaram maiores médias em desajustamento
psicossocial e depressão enquanto as mulheres apresentaram médias
superiores na faceta ansiedade. Assim, observa-se que a literatura
apresenta diferentes resultados quanto à associação entre o fator
neuroticismo e suas facetas e sexo.
O pensamento ruminativo pode ser determinado por diferentes
características de personalidade. Pessoas com altos escores de N tendem a
perceber de forma mais negativa os acontecimentos de sua vida (Magnus,
Diener, Fujita & Pavot, 1993). Devido a isso, possivelmente, essas
pessoas experienciem mais situações angustiantes, ansiogênicas e
discrepantes que pessoas emocionalmente estáveis (Trapnell &
Campbell, 1999).
Essa tendência a interpretar os eventos de vida de forma mais obscura pode gerar mais preocupação, ansiedade e stress
(Roelofs, Huibers, Peeters & Arntz, 2008). Dessa perspectiva,
homens e mulheres com altos escores no fator N - especificamente, na
faceta desajustamento emocional - podem apresentar uma predisposição à
ruminação (Roberts et al., 1998). Em outras palavras, ao invés de
utilizarem estratégias eficazes para solucionar seus impasses, estes
sujeitos provavelmente identificam novos problemas constantemente nas
suas rotinas e ruminam sobre eles (Watson & Hubbard, 1996)."
Referências Bibliográficas
Zanon, C., Borsa, J.C., Bandeira,D.R., & C. S.. Relações entre pensamento ruminativo e facetas do neuroticismo. Estudos de Psicologia (Campinas), 29(2), 173-181. http://doi.org/10.1590/s0103-1662012000200003
COLLINS DICTIONARY ENGLISH (United States Of America). Collins Dictionaries. Definition of 'on your mind' on your mind. 2023. Disponível em: https://www.collinsdictionary.com/dictionary/english/on-your-mind. Acesso em: 01 ago. 2023.
Referências de Imagens e Vídeos
Imagem 1 - Fonte: https://pt.vecteezy.com/arte-vetorial/20549535-diverso-pessoas-com-diferente-pensamentos-e-sentimentos-dentro-cabeca-homens-e-mulheres-pensamento-imaginando-e-planejamento-emocao-e-expressoes-dentro-mente-visualizacao-vetor-ilustracao
Imagens 2 e 3 - Fonte: https://www.significados.com.br/figuras-de-linguagem/
Video - Fonte: https://www.letras.mus.br/daniel-ramon/voce-nao-me-sai-da-cabeca/
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